quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A Grande Mentira de Sócrates - Contratação de Médicos de Família


Vivemos um período de recessão, atraso de crescimento, dificuldades económicas… o que seja… ao povo português interessa o simples conceito de dificuldade em subsistir! Para falar verdade, vivemos há tempo demais neste quadro negativo de relação social e estamos cansados de um discurso optimista de espera constante em que o pote de ouro no fim do arco-íris nunca mais é alcançado! Este tema domina as conversas de café, as tertúlias familiares à hora de jantar, as trocas de impressões entre colegas de trabalho… e toca todos os sectores da sociedade – dos mais abastados àqueles com maiores dificuldades. Urge a necessidade de resolução como se de uma inspiração profunda necessitássemos para nos sentirmos confortados depois do esforço realizado.
Na Saúde o panorama não é distinto. A falta de meios, que é tradução da falta de dinheiro e de vontade política, levou a um estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que já não consegue responder de forma satisfatória às necessidades da população.
Caso paradigmático de discussão acesa e opiniões fervorosas é a suposta falta de médicos em Portugal! Convictamente vos digo que Portugal tem 3,4 médicos por mil habitantes, enquanto a média da União Europeia é 3,2 médicos por mil habitantes – o nosso problema não está na falta de profissionais médicos no sector, mas na sua distribuição por especialidade e por área geográfica. Isto para não falar na redução dos incentivos para a realização da actividade e de algumas medidas castradoras dessa actividade enquanto Ciência que motivam muitos médicos a abandonar o SNS e a dedicarem-se à actividade privada.
Neste contexto volto a tocar naquilo que realmente interessa à população: os Cuidados Primários (vulgo, centros de saúde) – sendo a primeira face de abordagem da pessoa doente e da pessoa que busca aconselhamento médico!
Nesta área de acção, o nosso Primeiro-Ministro anunciou no último debate quinzenal, na Assembleia da República, a contratação de mais 250 novos médicos de Medicina Geral e Familiar (MGF, vulgo médicos de família), para colmatar algumas falhas nos Cuidados Primários! Mentira!
Interessa perceber como funciona a formação pós-graduada de um médico que siga a carreira de MGF para entender a falta de verdade: findo o curso de Medicina, um médico passa por um ano de formação generalistas (Internato do Ano Comum, semelhante ao antigo Internato Geral) e depois por 5 anos de formação específica (Internato da Especialidade, semelhante ao antigo Internato Complementar), integrando à posterior o SNS já como especialista. Quer isto dizer que os 250 novos médicos de MGF, que José Sócrates diz ter contratado, são 250 médicos licenciados em Medicina em 2002, tendo realizado a formação generalista em 2003 e a formação específica entre 2004 e 2008 – no fim deste processo não lhes restava grande opção a não ser serem contratados para trabalharem numa unidade de Cuidados Primários.
Em todo o caso, o anúncio foi feto como se de uma grande medida se tratasse – se em teoria estes 250 profissionais fossem todos colocados na área da Administração Regional de Saúde de Lisboa de Vale do Tejo (ARS-LVT), não resolveriam nem metade dos problemas aí existentes.
A juntar a isto, o actual método de reestruturação dos Cuidados Primários começa a levar à ruptura de muitas unidades. Em traços gerais, apesar de em teoria a criação das Unidades de Saúde Familiares (USF’s) parecer em tudo positiva, acontece que os utentes não abrangidos pelas USF’s continuam a acumular-se nas antigas e tradicionais extensões dos Centros de Saúde que ainda não aderiram a essa reforma – o que assusta, é que mesmo que aderissem, muitos seriam os utentes que ficariam sem médico de família e sem apoio por parte das unidades, agravando a situação em que vivemos. No mesmo agrupamento de Centro de Saúde assistimos a realidades tão distintas como a Lapa e o Biafra! Urgem novas medidas mais coerentes com a realidade! Estas reformas não se coadunam com longos tempos de espera!
Para vos deixar um exemplo prático: no Agrupamento de Centros de Saúde de Almada / Costa de Caparica / Cova da Piedade existem 17 unidades, das quais 5 são USF’s e 12 funcionam ainda à moda antiga, algumas num molde antigo muito mau!
Lanço com isto a verdade para a discussão! É preciso mobilizar a Sociedade Civil para esta problemática.
Assim tenhamos todos opinião!

2 comentários:

  1. Estás cada vez mais nilas!!!
    Abraço
    Liça

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  2. A título de exemplo, recordo-me não há muito tempo, quando necessitava de visitar o Centro de Saúde da minha área de residência (Centro de Saúde do Feijó), até há uns tempos havia urgências para os casos "menos graves" se é que se pode dizer: constipações, gripes, e tudo aquilo que pudesse ser diagnosticado com meios menos elaborados, podia ser feito sem "problemas de maior".

    Com a actual legislatura, a óptica de descentralização dos cuidados médicos foi totalmente revertida, sendo que actualmente, se necessitar de um simples antibiótico para tratar uma gripe (embora não seja tão pouco grave como se possa pensar), tenho que me deslocar ao SAP (que com tudo isto nem sei se é SAP ou não), ou pior ao Hospital Garcia de Orta e esperar looongas loongas horas pela minha vez, e quem sabe contribuir para a propagação da gripe a quem ainda não a tenha (dependendo das estirpes evidentemente).

    É todo o sistema que se põe em causa com a política seguida por este governo, de cortar custos "a todo o custo", nem que para isso implique colocar em causa a saúde dos beneficiários do SNS.

    (Peço desde já desculpas pelo comentário, mas admito que o campo da saúde não é o meu forte :S ).


    João Antunes

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