quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Erro Médico

Serão punidos com penas de repreensão escrita, os profissionais envolvidos no processo que condicionou lesões de queimadura no tubo digestivo das crianças envolvidas num procedimento diagnóstico no serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Garcia de Orta.
Aparentemente terá havido troca de fármacos e o inquérito apurou “deficiente identificação ou verificação por parte da médica responsável pela sua administração”.
O erro médico é uma discussão com muitos anos. As consequências do erro médico podem ser mais ou menos nefastas mas, regra geral, estão associadas a uma repreensão social intensa.
Espera-se do médico que haja em conformidade com a ciência e com aquilo que para cada um de nós são boas práticas. Podendo as minhas boas práticas não serem as boas práticas do outro.
Pede-se ao médico que aja em conformidade com a aura endeusada com que o revestem, e esperam que o médico conceba actos miraculosos.
Quando o médico erra e as consequência são graves/nefastas a imagem e o discurso mudam, a sociedade repreende e a aura endeusada desaparece.
O erro em epígrafe é grave, mas mais do que repreensão, mais do que crítica ou mais do que trucidação da profissional, urge mais uma vez repensar as condições da profissão médica no SNS desde as condições físicas em termos de espaço, aos horários praticados.
Urge pensar, acima de tudo, que para que se tenha uma boa prática clínica, com execução de tarefas condignas, prestigiantes, prestigiadoras e capazes, não é possível realizar serviços de urgência infindáveis com horários perfeitamente loucos e surreais.
Urge pensar que, hoje em dia, para que se tenha uma boa prática clínica, não é possível trabalhar sem os meios informáticos suficientes para todo um serviço.
Urge pensar que, hoje em dia, para que se tenha uma boa prática clínica, é importante a aposta forte na formação contínua dos médicos em formação específica e pós-formação específica; e cabe não só às direcções de serviço, mas também às direcções clínicas e às administrações, apostar na realização de jornadas, seminários, sessões, simpósios e outras figuras de formação.
Urge pensar em conjunto e urge pensar para o utente e para o doente, visando a nossa acção directa sobre aqueles que recorrem aos nossos serviços.
Na aquisição de uma postura digna e capaz, urge formar e dar as melhores condições possíveis, para que melhor se possa intervir!

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